sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Adega


Aqui estamos
Vinho quente, empunhados
O tempo distante
Nós, enfim, conquistados

Libertem a alma! 
Ela está aqui para escutar
Respire, tome tempo
Pegue seu ar

O dia que todos partirão,
Compartilhar, da vida,
A única coisa real

A porta está aberta,
Eu não vejo você...
Você já me viu?

Então, mostremos...
O paraíso, aos anjos
O inferno, aos demônios
Eu, a você
terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Redenção


Deixe-me, saia 
Estou perdido, sem jeito 
Fuja, vá viver no paraíso 

Estou errado 
Condenado, de volta à morte 
Mas você nunca esteve certa

Já nos perdemos, 
Meu desejo morreu primeiro, 
Eu quero arrancar meu coração, 
Junte-se 

Já não pode desaparecer 
Mas não entre novamente 

Já me cortou muito, 
Traga-me apenas minha cabeça
sábado, 13 de dezembro de 2014

Soneto XIII: Via-Láctea 


"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo 
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, 
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...


E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las! 
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas"


                                 Olavo Bilac
quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Encontro


 Começou a chover. Estávamos nós três, ou talvez eu. Estava encharcada, mas os dois não se molhavam. Fiquei com medo. Estremeci. Corri para além da colina, onde um lago dormia com a chuva. Sentei a sua beira, junto com a grama. Adorava aquele sabor, o cheiro da grama, as gotas caindo no lago, a lua refletindo. As ondas se formavam a cada pedra que eu jogava ali. Se formavam, cresciam, e depois, apenas sumiam. Eu me lembro de cada onda que surgiu, mas só. Só uma onda. 
  Meu cabelo juntava-se a meus ombros, e então gotas passavam em meu rosto. Não sei o motivo, acabei me acostumando. As lágrimas juntavam-se ao orvalho, já não dava para saber de quem era a tristeza. Minha ou do mundo. Arranquei algumas gramas do chão, fiz uma pequena cova, e enterrei minhas lágrimas ali. Mas o orvalho não sumiu do gramado. Será que os dois já se molharam? Não sei se vão me aceitar... não sei se quero. 
  A lua já estava tocando o lago quando aconteceu. Não me pergunte o tempo, por favor. Ondas surgiram lá, perto do meio do lago, e eu a vi. Eu mesma, perto da lua, sem lágrimas no rosto, sem o meu cabelo molhado, me convidando. Não hesitei. Mergulhei no lago mesmo ainda estando sentada. Era estranho ali, não sei se estava sonhando, mas me senti em casa. Respirava em baixo da água, e pude andar no fundo do lago. Olhei para a lua, ela parecia mais bonita daqui. Conseguia vê-la por dentro. Ela nunca esteve fora da água. As algas aqui não choram como a grama. Mas senti o mesmo peso nelas. Andei em meio as algas, o escuro misturado com o azul resplandecente da lua deixava-se vislumbrar em meus olhos. Quando achei um local um pouco mais aberto, fiquei imóvel. Sentei, deitei, meus cabelos cobriam meu rosto, ali adormeci. Acordei muito depois, a lua ainda estava lá. Ali, dentro da água, também não me achei. No chão se encontravam algumas pedras brancas, as algas se soltavam e flutuavam, quase como livres. Sumiam na escuridão. 
  Era aquele o meu mundo? Solitário e agitado, frio e quente, mas meu. A superfície voltou a ficar trêmula. O céu voltara a chorar. Não queria abandonar aquele local, estar molhada ali não fazia diferença. Mas precisava sair, tinha que ver como os dois estavam. Sabia que eles não gostariam daqui, mas se molhassem... espero que não aconteça. Voltei pelo mesmo caminho. Ali estava eu novamente, sentada a beira do lago. Lágrimas em punho. O cheiro melancólico da grama voltou aos meus sentidos. Subi a colina e voltei para os dois. Não tinham se molhado. Não me entendiam. Não os culpava por isso. Ainda conversavam sobre o mesmo assunto que eu não entendia. 
  Depois, aprendi a voltar para o lago. Sempre que o fazia conseguia entrar em meu próprio nada. Mas sempre me obrigava a voltar. Acabei aceitando que não tem como viver lá. Pelo menos não tenho certeza. Mas o lago sempre me convidava, assim como eu mesma. 
terça-feira, 9 de dezembro de 2014

 Tempo


 Tudo desapegou. A morte me abandona aos poucos. Porque eu não consigo?! Diga-me! Não acharei resposta aqui.
  Ela está sentada do outro lado. Não sei qual era a cor da roupa. Seus olhos estavam me consumindo. Eu estava jogando fogo nos meus sonhos. Não importa o quanto eu queime, o final é sempre falho. Segure-me! O ar está me torturando. Mas os olhos ainda continuam a me consumir. Não sei onde estou. Digo a ela? Digo? Nem eu sei o que dizer. Pegue minha alma. Venda. Ela quem sofre.
  Passei algum tempo... não, apenas passei, acho que o tempo não estava ali, olhando-a. Depois voltei a morrer com o tempo.
quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Sobre viver


      Subiu os degraus do restaurante e parou à porta. Tão Grande e forte, o homem impedia que os raios de Sol entrassem, pois seu tronco duro consumia a entrada.Observei-o. Usava uma camisa manga curta azul desbotada e uma calça de um bege sujo. Tinha os punhos cerrados no tamanho de talvez dois melões.
      Respirou fundo e limpou o suor do queixo com as costas da mão. O sujeito sem nome tinha a face escondida por um boné. O negror de sua pele lhe dava um ar de fortalecido pela vida. Mantinha os punhos fechados como se estivesse pronto. Deu mais uma olhada ao seu redor com cautela, comigo contava-se quatro no estabelecimento. Pisou em direção à sua mesa, três ao lado da minha. Passou os dedos sobre a madeira gasta e procurou o garçom ao seu redor. Encontraram-se. Olharam-se como cúmplices, mas palavras não trocaram. Sentou-se. Percebi o quanto ele pertencia ao lugar. Espichou as pernas e deu um suspiro. Em pouco tempo um prato foi largado sobre a mesa. Cheio, arroz, feijão e um ou dois ovos sobre esses. Senti-o salivar.
     Tirou o boné e pousou-o à frente, uniu as mãos ásperas de labor e fechou os olhos. Não havia nada no recinto. Apenas garfos cortando o murmúrio lento. O murmúrio do incrível. Nada fora aquele momento. Passado certo tempo, o negro de cenhos constantemente franzidos abriu os olhos. Olhou seu prato e respirou fundo. Em seguida olhou para algo além do teto. Voltou-se para a mesa. Pegou seu talher. Saciou seu vazio.

Perfume de Lírios


Pés descalços, andando sem rumo 
A areia calejada pela brisa descansa
A lua brilha azul no horizonte
Brisa fria... Lírios, não por fora, não fora

Conchas por todo caminho trilhado
Um som ao fundo indecifrável 
Socorro, ajuda, dor, não sei 
Oceano furioso com sua paz 

Rotineiramente as águas alcançam
Tocam meu pé e fogem, voltam 
O momento do toque, fantástico 
A falta, o Oceano tenta cobrir 

A brisa contínua não deixa esquecer
Meus pés ainda estão molhados 
A água não dá tempo para secar
Mas o Oceano não conhece tempo

Já não sinto o caminhar pela areia
As rochas no fim não alcanço 
Paro, sento, fico assistindo 
A lua beija o Oceano, lágrimas escorrem

As lágrimas espalham-se pelo mar
Deixam um rastro até sua dona 
O Oceano as apara, não as deixa afundar
A brisa as afasta, a maré as trás 

Sentado vejo a dor da lua 
Vejo minha senhorita no oceano 
Como um anjo... talvez 
Vejo o Oceano a segurando

Enxergo a dor do Oceano
Calmo para todos 
Apoio para a lua 
Lar de minha dama

Extinguiu-se toda vitalidade de nós 
O sofrimento aumenta no luar
A lua mostra seu brilho 
Minha senhorita confunde-se com as lágrimas
sexta-feira, 28 de novembro de 2014

 Sem Graça à Oeste 


  Assim que o nada começou a fazer sentido, alguns dizem que foi logo quando o sol dormiu, ela abriu os olhos. Os cabelos louros já não estavam como antes, um pouco mais apagado, algo para o branco. Mas vivos, como ela pensava. Estava tudo escuro, ela estava presa. Não conseguia nem se virar direito, e estava em meio a um veludo. Precisou de uma força imensurável para empurrar a porta, como pensava. E encontrou apenas terra. Cavou, cavou, foi mais fundo, e chegou a superfície. Estava em seu túmulo. Mármore, frio, flores murchas em volta de sua coroa.
   Ela ficou várias horas, dias talvez, olhando sua cova. Ainda estava lá, deitada, seus cabelos cobrindo todo o ombro. Como era possível? Quem explicaria tal fato? Depois de algum tempo, aparentemente já desistira de contar, começou a chover. As gotas molharam a garota inteira, mas a que estava deitada, ela mesma, não se molhou. Ali, naquele cemitério, a garota ficou pensando em motivos para descer novamente até o caixão e descobrir o que estava acontecendo. E desceu. Quando seus pés tocaram o caixão, lentamente, ela estremeceu, um frio até então desconhecido domou seu coração. Finalmente entendera, aquela era sua alma, não mais a tinha. Como viver sem alma? Como? Lembrou-se então do seu passado, das pessoas com quem poderia contar, das pessoas que poderiam ajudá-la. Deixou então sua alma deitada, e foi em busca de ajuda. Deixou para trás aquelas flores, e o poste de luz que estava aceso ao lado de seu memorial. Memorial... também não sei o motivo.
    Na rua não havia ninguém. Logicamente, quem sairia aquela hora. A lua brilhava tanto. Como sofre! Em toda sua existência, acho que não foi grande coisa, ninguém percebeu seu sofrimento. Mas o brilho nunca foi de alegria. Foi para se esconder. Casais olham para ela, famílias, mães, um grupo de amigos, e ela sempre a mesma. Mas a garota via. Conseguia enxergar sua dor.
   Foi até sua casa. Todas as luzes apagadas. Como pensava, não passava ali por muito tempo. Decidiu então ir até sua família, quem sabe eles teriam alguma resposta. Encontrou todos acordados no meio da madrugada, comendo. Disseram que estavam almoçando, e como estava calor o dia. A menina não entendia nada. Depois de conversar sobre a vida de todos, vida, como diziam, ela sentiu que estava na hora de pedir ajuda, contar sobre sua alma, como estava aprisionada. Mas todo momento que ela tentava contar o fato, uma estaca era enfiada no seu peito e ficava rasgando. Pelo menos foi assim que ela falou. A dor da estaca era tão forte, e ela sabia que caso conseguisse falar sobre sua alma, para qualquer pessoa, esta poderia sentir a mesma dor. "Não quero isto para ninguém", ela me disse uma vez.
   Pela janela conseguiu observar o sol tentar desabrochar no horizonte. Sabia que estava na hora, não poderia deixar o dia chegar e ela continuar ali sem sua alma. Desculpou-se com todos da casa, todos disseram que não foi nada (sem entender nada), e ela saiu correndo. Correu, lágrimas caiam, rolavam por seu rosto, respingavam no cabelo e tocavam o chão como purificação... ou o contrário. Chegou no cemitério, o sol quase impondo seu poder. Entrou na sua cova e ficou junto com sua alma. Ali dormiu. E foi quando nós conversamos. Um mundo paralelo, não sei. Não preciso explicar aqui também, quem sabe em outro momento. Era apenas neve, alguns arbustos formando uma circunferência, uma fogueira centralizada, e nós dois conversando. Estava quente e frio ao mesmo tempo, não sei se dentro ou fora.  E todos os dias foram assim. Noites, na verdade. Quando o sol começava a aparecer aqui, ela corria para o outro mundo. Acordava no seu túmulo, e tudo se repetia.
   Depois de muito tempo nós concordamos em guardar todo o sofrimento de nossas almas conosco, e se possível, mostrar nosso corpo para as pessoas, apenas ele. Foi assim que vivemos, assim que sobrevivemos. Isso, melhor, sobrevivemos.
quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Demasiadamente Humano


Encomendaste a morte no gêneses
Perdidos no labirinto da redenção
Humanos escalam o muro abissal
Todos condenados a danação 

Horrores dos demônios infernais
Ligas com os cães da Terra 
Partires o pão aos pecadores
Vendeste fatia por fatia 

Almas condenadas ressurgem 
Condenadas a vida, vida...
Os céus estão preocupados

Aquele humano não vive
Mas está no mundo, sofredores
Peito e navalha aos pedaços
terça-feira, 18 de novembro de 2014

Morte ao Titã!


Quero mais dias no mês,
Com mais horas por minuto
Quero o tempo diminuto
Perto do resto do importante

Quero voar em navios,
Deixar-me levar em Rios,
Degustar quentes e frios
Em apenas 45 segundos

Quero recitar poemas,
Fagocitar aforismas,
Explodir-me em várias centenas!
Em meio piscar de olhos

Ame-me sua vida em 2 segundos
Desperdiça teu tempo. Matamo-no!


domingo, 16 de novembro de 2014

Horizonte


Oh deusa, aproxima-se sobre os mares
Flutua perante os olhares perdidos
Entre a perdição do horizonte se inclui
Calíope, deusa minha, vive por qual glória?

Tínheis crido no mais elevado altar
Nada é tão estático, uno
Nem os pássaros que acompanhava
Ferrugem agora é um modo de vida

Caronte peca para seus seguidores
Guia até os menores,
Sofre para a inexistência. 

Rainha das iguais, ajuste-se
Caronte não é mesmo
Nós começamos a existir. 
quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Retratos e Memórias


   Os sinos ecoavam, meu quarto estava surdo. A Igreja no final da rua não casava, continuava a ecoar o sino... mas minha janela está sendo tocada por neve agora, quase coberta. Sem levantar da minha cama, já estava cansada de observar o teto, virei meu rosto. Incontáveis fios amarelos tamparam minha visão, meu cabelo, acho [...] Não queria retirar ele da minha vista, fiquei inerte, até o crepúsculo engolir o dia. Já está na hora? Retirei aqueles fios do meu rosto. Minha cama? Grande e vazia, parecia que a neve ali repousava. Meu quarto, com todas aquelas memórias, encontrava-se só, eu já não contava. Não contava?! Mas eu sou a menina. No fundo, dentro do meu próprio nebuloso vale, eu sabia. Não contava pois eu não era passageira, o quarto nunca me pertenceu, nem eu a ele. Não há como nos separar.
   Enquanto estava deitada em meu mundo, acho que essa é a palavra, prestava atenção nos barulhos da rua. Não quero mais ouvir o sino. Creio que seja uma mãe com seu filho. Tantas trocas de afeto, mas está muito frio. O que faz esses dois lá fora? Quem se importa... acho que pensavam assim. Risos, acho que era, duas pessoas brincando lá fora. Provavelmente bolas de neve, como uma guerra para aliviar o mundo. Ou talvez um boneco, sabe, daqueles com nariz de cenoura, moldá-lo como desejar, desfazer quando quiser, ou deixar o inverno passar, o tempo levará. Um carro também passou, mas era só um carro.
   Depois de algumas escolhas, passou pouco tempo, sentei na cama. Esqueci que a janela estava coberta de neve, mas olhei para ela. Ouvi passos na escada de casa. Fiquei esperando os passos acabarem, mas não acabou.
   Chegou um momento em que eu deitaria novamente ou sairia por aquela porta. Não defini como uma escolha certa, mas atravessei a porta. A escada me encarava. Vazia, com um espelho no final. Fui até o espelho, fiquei ali por um período. A  imagem, minha imagem, pele pálida, olho azul (é o que todos dizem), e... não sei. Atrás apenas a escada e a porta do meu quarto aberta, como um convite. Fechei meus olhos rapidamente. Quando abri, para minha surpresa, juro, eu ainda estava lá.
   Resolvi ir até a rua, ver aquelas pessoas. Foi complicado abrir a porta, a neve não deixava. Tive que fazer muita força para conseguir, e no final consegui.  Se foi bom ou ruim é com você. No exato momento em que abri, as vozes pararam. Mas o sino continuava. Primeiramente pensei que estavam calados, mas depois percebi que nunca houve alguém.
   E a Igreja com seu sino? Vou pará-lo. Corri, o crepúsculo já estava sendo engolido. Quase perto da esquina da Igreja, tropecei em uma pedra e caí. Já consegui ver ali do chão. Não era uma Igreja. Era um velho balançando um sino. Fui até ele e fiz algumas perguntas. Mas ele não fez nada além de tocar o maldito sino. Desculpe-me a palavra. Desisto daquele senhor? Não fiz, apenas o esqueci. Mas voltei a visitá-lo. Retornei até o meu quarto, deitei novamente. Olhei para o lado, como sempre não havia ninguém. Dormi.
   Os sinos ecoavam, eu estava surda.
segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Vitalidade II: Sobre a Escada



A Escadaria continua parada
O tempo não importa para ela
Ela, a menina, importa

Estático em um tempo tortuoso
Plano, sensato, sem vida
O sangue já faz parte dela

Deixem a menina na escada
Não cuspa seus desejos sobre ela
Não desmorone seu mundo,
Ele não é único.

A pequena saiu da escada
Foi até a floresta
Ficou lá um bom tempo
Ela não o contou

Mas o Natal chegou lá também
Não dava para acreditar
Obrigam a escada a permanecer

“Deixe a menina sentada ali
Ela vai esquecer que é uma escada”
Era uma escada, realmente
Mas "só" nunca foi real 
sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O Médico e O Monstro



É estranho
Está tudo bem, mas tudo errado
Deveria encolerizar-me mais...
Com sociedade anti-social,
Com política idiota

Ah, maldita política!
Infernal humanidade desumana! Não.
É estranho achar o normal errado? 
Talvez devesse eu amar mais
E mostrar isso de vez em quando

Mas o que fazer?
Demonizar guarás satânicos?
Louvar burros sagrados?
Perguntar o sentido da vida a mortos...
Ou simplesmente pensar?

Ah, o pensar... Fardo!
A arte matemática de pensar humanamente,
Este dom que a tantos aflige,
A mim causa delírios de lírios e rosas
Oh, apesar, estou farto!

Já declarei meu amor pelo conhecimento
Não sou filósofo, sou... humano
Mas não somos mais humanos
A esmeralda está em nós,
E nós somos todos Monstros

Meu Gato, para falar de amor


Não quero poesia.
Só quero lembrar do meu gato.
Não procurem versos e palavras
Apenas pensem nele... então vamos

Costumava usar essa droga
Mas meu gato me fez parar.
Meu pequeno gato preto...
Sacrificou-se por mim.

Nos dias de chuva
Ele está aqui.
Mas não para de chover, senhor.
Meu gato perdia outra vida.

Estava na praia, em dezembro.
Algo que desconheço me afogou.
Mas ele também lá estava,
E foi com o Oceano.

Meu gato perdeu as Sete
Depois de três dias,
Ele não voltou.
Seu gato não existe! - a menina nadando

O gato... meu gato
Ensinou-me a não implorar
Mas sinto sua falta,
Não falo a língua dos homens. 
quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Onde anda seu coração?


Descobri-me esses dias vagando dentro do peito. Um coração.
Eu lá sabia que coração vaga?
Entretanto, descobri um novo prazer
E deliciei-me nas aventuras de conhecer outros mundos

Mundos tristes, mundos vermelhos, mundos amarelos, muitos diferentes do meu!]


Enquanto isso, meu coração pulsava

E palpitava de alegria
Mas, meu coração que aprendia a dar seus passos,
Descobriu os tropeços
Aos poucos, descobrimos juntos, eu e meu coração, que há caminhos
Com falhas
Caminhos que tem muitas curvas
E veias muito apertadas
Corações sofridos...
Choramos.

Porém, em meio a tantas descobertas
Escolhemos descobrir
Andamos por mais pulso e mais cor
E descobrimos colorindo o colorido que é
Ser cor na vida de alguém.
Decidimos. Pulsaremos.
E você que pensa que coração não anda
Onde anda seu coração?
terça-feira, 4 de novembro de 2014

Música e Cores


Finalmente, em casa
De volta, embriaguez
Olhamos o céu
Transportamo-nos

Olhares celestes
Com gotas de azul
Bebemos as nuvens
Elevamo-nos

Nadamos em mares
Trocamos olhares
Flutuamos nos ares

É transcendental...
Momento sublime
Sublimamo-nos
domingo, 2 de novembro de 2014

O Sepulcro da Flor


Todos caminham, sem conversa
A cova está cada vez mais próxima
Logo, livre... Quem está feliz?

A gota desce no rosto da menina,
Não é uma lágrima,
É apenas o orvalho,
Já aconteceu.

Olhem aquele menino!
O que faz em tal mortório?
Ele chora pela Flor.

"Ingênuo... não assistiu ao jornal"
As estrelas em seus olhos
Mostram o nada dentro

O menino, ele não é protagonista.
Mas então, quem... "Silêncio!"
Começaram a rezar 

Todos esperavam,
O renascimento da Flor.

O garoto foi expulso,
"Não deixava o nascer"
quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O Cometa


Certa vez, um cometa passou.
Não como qualquer outro, este perdurou.
Visível mesmo perante a luz do Sol,
Rubro como sangue, cortava o céu.
Sua passagem durou minutos.
Horas? Não...
Dias.

Tarquínio não se espantou,
Era um presente dos deuses!
Haviam recompensado-o por sua excelência,
Nada além do merecido.

Charles se assustou,
Era um mau presságio!
Arrependeu-se de ter matado a garota,
Sua sina estava a caminho.

Orfeu se inspirou,
Havia lá muita arte!
Devia escrever uma canção,
Sua emoção seria apreciada.

Ester se entristeceu,
Partia ali sua querida mãe!
Não soube dizer se tinha aproveitado,
Vidas vêm e vidas vão.

Martim se determinou,
Tinha à sua frente um exemplo!
Como o cometa, seguiria adiante,
Somente se anda caminhando.

Muitos outros o observaram partir,
Cada um, um significado.
Sorrisos se abriram, lágrimas tristes caíram,
Vidas mudaram, sim.
Tanta capacidade em uma simples imagem...
No entanto, ninguém percebeu a única certeza:
Era somente um cometa, passando...


terça-feira, 28 de outubro de 2014

Dança das Sereias


Vamos assistir,
A dança das sereias.
Lá, longe no oceano,
Estamos aqui, na areia. 

Volte, lute, não me escute!
Eu preciso de você, senhorita 
Não me perca de vista.

O inferno nos abraça,
A caída de todos está próxima,
Não se importe com porra nenhuma
Até o céu nos amassa. 

Já estava na hora,
Ela gritava por mim,
Eu escutei o seu choro,
Vamos agora.

Encostei meu pé no oceano,
Devo mergulhar?
Mergulhar? Já estou nele,
Vou afundar.

Ali está a sereia,
Sorrindo para mim. 
Ela conseguiu o que queria,
Estou no começo do fim. 
segunda-feira, 27 de outubro de 2014

SOBRE PÓ


Dos pés ao horizonte, somente grãos.
Pintando o céu, alguns mais distantes.
A fumaça do acabado subindo;
Sua vida, a única visível.

De repente, a areia se move.

As pernas vazias levam o mundo pra trás,
A mente cheia leva as pernas à frente.
O mundo o move? Ou move ele o mundo?
Atrás de si, porém, nem pegadas.

De súbito, a luz lhe enche os olhos.

O vento são sussurros, calmos.
O ar irriga seus secos pulmões.
Os infinitos caminhos, enfim iluminados,
"Levam todos ao mesmo lugar?".

Num instante, para.

O tempo não passa.
Os grãos do céu, porém, logo voltam.
Os líquidos de ontem, hoje vapores,
Escurecem sua visão perdida.

Abre então os olhos, e recomeça.


sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Navegantes



Sentado nas rochas caídas
Vejo o poente fechar descontínuo
Do sangue vermelho no fundo 
Ao preto, ofuscaste a vida

Olho o velejar pelo mar
Ao encontro do horizonte 
Para frente, tudo já se passou 
Está liberto ou preso? 

Preso pela maré, 
Aceitou o gosto da água. 
Marinheiro sem bússola.

Serena, ela espera no poente
Dar calor ao frio estridente 
Sobre os Sete, nunca ausente.
segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Decisão


A arma está apontada
Seguramos o mundo,
Antes de apertar o gatilho.

Eu não posso gritar,
A lágrima ardente já virou rotina,
Tudo estagnou!

Quem vai apertá-lo?
Vai me ajudar a puxá-lo? 
Vai tirar da minha mão?

Ajude o sem esperança,
Deitado no canto,
Aparte do mundo.

Hoje lutaremos pela vida.
E outro dia viveremos.
Vamos, o fim está perdido.

Tentamos não afogar,
Mas como é difícil.
A verdade está a frente...
Não abra os olhos.

O Amor morreu,
Homens tentam ressuscitá-lo.
Busca perdida para o Fim.
O Fim não é a felicidade.

Dê-me uma razão para matar,
Dê um sentido para fugir.
Encarar a porra da sua hipocrisia,
Estamos perto do precipício.

Está vendo o trono de ouro a frente?
Eu o fiz.
Estava nele, mas levantei.
Você já saiu do seu?

Tire a faca do meu peito,
A temporada de caça já passou.
Os lobos estão rodeando,
Esta é a vez deles.

Oceano de Ossos


Olhemos para este nada
Tranquilidade frustante

Pensamentos transbordando
Mas não preciso pensar

Cadeia de devaneios
Sou... sou-lhe seu oceano

E sou brisa que gela, a alma
Que tenta se manter quente

Imensidão depressiva
Preso por olhar o nada

Amor, vida, tentaremos?
És isto pura verdade?

Este vento que carrega,
Todas minha incertezas

Não correremos agora
Finalmente já é noite.  

Ponto Final


Chega de reticências: ponto final.
Se não dá pra ser tudo, então que seja nada.
Cada um prossiga na sua estrada
Até que a dor seja, talvez, fatal. 

     Autoria de Marli Fiorentin
Blog: Varal de Poesia