segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Elevação


Por sobre os pantanais, os vales orvalhados,
Por sobre o éter e o mar, por sobre o bosque e o monte,
E muito além do sol, muito além do horizonte, 
Para além dos confins dos tetos estrelados, 

Meu espírito, vais, com toda agilidade,
Como um bom nadador deleitado na onda,
Sulcas alegremente a imensidão redonda, 
Levado por indizível voluptuosidade.

Bem longe deves voar destes miasmas tão baços; 
Vai te purificar por um ar superior,
E bebe, como um puro e divino licor, 
O claro fogo que enche os límpidos espaços. 

E por trás do pesar e dos tédios terrenos 
Que gravam de seu peso a existência dolorosa, 
Feliz este que pode de asa vigorosa 
Lançar-se para os céus lúcidos e serenos! 

Aquele cujo pensar, como a andorinha veloz 
Rumo ao céu da manhã em vôo ascensional, 
Que plana sobre a vida a entender afinal 
A linguagem da flor e da matéria sem voz!

Élévation 


Au-dessus des étangs, au-dessus des vallées, 
Des montagnes, des bois, des nuages, des mers, 
Par-delà le soleil, par-delà les éthers, 
Par-delà les confins des sphères étoilées, 

Mon esprit, tu te meus avec agilité, 
Et, comme un bon nageur qui se pâme dans l’onde, 
Tu sillonnes gaîment l’immensité profonde 
Avec une indicible et mâle volupté. 

Envole-moi bien loin de ces miasmes morbides, 
Va te purifier dans l’air supérieur, 
Et bois, comme une pure et divine liqueir, 
Le feu clair qui remplit les espaces limpides. 

Derrière les ennuis et les vastes chagrins 
Qui chargent de leur poids l’existence brumeuse, 
Heureux celui qui peut d’une aile vigoureuse 
S’enlacer vers les champs lumineux et sereins!

Celui dont les pensers, comme des alouettes, 
Vers les cieux le matin prennent un libre essor,
– Qui plane sur la vie et comprend sans effort
Le langage des fleus et des choses muettes!

                                            Charles Baudelaire 
terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Luna


Dê-me motivos para o sol nascer
Quero vê-lo entre os pinheiros
Sair do oceano, escapar
Fugir, viajar, começar a viver 

A lua me domina 
Ela está entre os pinheiros 
Uma névoa em sua frente
Ela também não se mostra

Segura-me, minha querida Luna
Estou na grama, molhado
Minha Luna, porque choras? 
Eu estou aqui, também te seguro

O vento congela a minha pele
Mas não posso deixá-la no céu
Sozinha, só com seu sentir
Sozinha, sem poder fugir 

Minha Luna, sempre esteve aqui
Minha Luna, talvez a manhã,
Não irá surgir
domingo, 11 de janeiro de 2015

Teofobia


Meu deus é grande.
Maior que o seu.
Mas maior é minha fé...bre

Minha vida é de meu deus
Dou, por ele, meu sangue,
E o de todos aqueles que se opuserem a mim

Ah... apenas um escrito fugaz
Para tantas pessoas de mal.
Num apelo intercelestial, peço paz, e pronto.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Manhã


A morte está lá fora
Será que apenas eu vejo? 
Corpos no chão, almas dispersas 
O sorriso levado aos ventos 

Apenas um segundo 
O sol se pondo 
O horizonte no mesmo lugar 
Quando vou alcançá-lo? 

A maré desceu 
A lua subiu ao trono 
Lágrimas por todo o gramado 
Ninguém colheu 

Ela aparece a todo instante 
Viva... não posso tocá-la 
Nada passou 
Meu coração ainda não bateu 

Vidros no chão, quebrados 
Todo o sangue em pedaços 
O chão molhado com o tempo 
Tudo, então, espelhado