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quinta-feira, 4 de dezembro de 2014
Sobre viver
Subiu os degraus do restaurante e parou à porta. Tão Grande e forte, o homem impedia que os raios de Sol entrassem, pois seu tronco duro consumia a entrada.Observei-o. Usava uma camisa manga curta azul desbotada e uma calça de um bege sujo. Tinha os punhos cerrados no tamanho de talvez dois melões.
Respirou fundo e limpou o suor do queixo com as costas da mão. O sujeito sem nome tinha a face escondida por um boné. O negror de sua pele lhe dava um ar de fortalecido pela vida. Mantinha os punhos fechados como se estivesse pronto. Deu mais uma olhada ao seu redor com cautela, comigo contava-se quatro no estabelecimento. Pisou em direção à sua mesa, três ao lado da minha. Passou os dedos sobre a madeira gasta e procurou o garçom ao seu redor. Encontraram-se. Olharam-se como cúmplices, mas palavras não trocaram. Sentou-se. Percebi o quanto ele pertencia ao lugar. Espichou as pernas e deu um suspiro. Em pouco tempo um prato foi largado sobre a mesa. Cheio, arroz, feijão e um ou dois ovos sobre esses. Senti-o salivar.
Tirou o boné e pousou-o à frente, uniu as mãos ásperas de labor e fechou os olhos. Não havia nada no recinto. Apenas garfos cortando o murmúrio lento. O murmúrio do incrível. Nada fora aquele momento. Passado certo tempo, o negro de cenhos constantemente franzidos abriu os olhos. Olhou seu prato e respirou fundo. Em seguida olhou para algo além do teto. Voltou-se para a mesa. Pegou seu talher. Saciou seu vazio.
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