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terça-feira, 30 de setembro de 2014
Vale dos Perdidos
Cacos frágeis sangram no chão
Os espinhos, a mão já não furam mais
Já morremos por muito tempo
Chega de segurar esta rosa
Quero ser curado,
Não me deixe afogar,
Tire-me do meu vício.
Você já deixou o último suspiro,
Agora é meu turno.
Não ache motivos para a adaga,
Eles não existem.
Está ouvindo?
As lágrimas das Sereias...
Não... não escute o nada
Apenas o afaste.
Estamos aqui,
No Vale dos Perdidos
Sexta... sexta, sexta
Pela sexta vez entraremos nele.
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domingo, 28 de setembro de 2014
Pesadelo
Arghus andava
pela cidade. Na rua viu crianças brincando, cachorros latindo, uma mãe vivendo
com seu filho. Vivendo! Como isto é possível? Então foi até a moça.
- Senhora, o que está fazendo?
- Estou com o meu filho... Não consegue enxergar?
Ele não
entendeu, ele enxergava! Aquela moça... ela enxergava? Arghus não sabia.
Em meio a
toda aquela felicidade, o jovem Arghus, com toda a sua velhice, saiu correndo.
Correu até o vale que parecia mais medonho, para ali viver. Quando chegou lá
descobriu que havia pássaros, todos cantando e montando seus ninhos. Mais a
frente existia um acampamento, para as pessoas passarem as suas férias. Arghus
não aguentava mais, iria enlouquecer. Esfaqueou seu peito. Enquanto sangrava,
ouviu seu alarme. Em um suspiro de vida, acordou em sua cama. Ouviu seu mundo. Sentiu
o cheiro da fumaça, ouviu a buzina dos carros, e lá longe, ecoando em seu
quarto, o choro de uma criança, que não queria nascer.
“O que está acontecendo?”,
pensou. O mundo está errado para ele, ou ele estava errado para o mundo. Então
foi ver seu amigo, Augusto. Quando chegou na casa, ele já não estava. O pobre
Arghus ficou louco, o que havia acontecido com ele? Então viu um bilhete na
porta, e foi ver o que estava escrito.
“Tudo passa...
fique tranquilo. Tudo passa, a vida é o sentido da vida. Espere a maré
diminuir, o oceano vai ficar calmo.”
O que ele
queria com aquilo? Ficou louco. O mundo está um caos, as pessoas pensam que
vivem. Tentam respirar mais do que as outras. Como ele pode dizer isto? Insano.
Arghus, após
ficar sentado ali, sem nada a oferecer, percebeu que aquele lugar já estava
falido. As pessoas, condenadas. Consertar apenas a si não adiantaria. “Prefiro
ser nada, o nada, a ser algo aqui.” Com isto, Arghus se matou. E morreu?
Coitado, não pode morrer. Quando sangrava, ouviu os pássaros cantarem. Pulou do
chão, sentiu o ar fresco, estava no vale, novamente.
-Acorde, acorde! - Era seu amigo, Augusto.
-O que faz aqui?
-Eu vivo, como todos.
Então viu um crachá
no peito de Augusto. Como se pertencesse a algum escritório. Arghus perguntou o
que era aquilo, e seu amigo explicou que era onde todos trabalhavam. Não havia
escalas, não existia, além do chefe, alguém superior a eles. Augusto não
conseguiu contar como o chefe era, pois nunca o viu. Mas sabia de vários boatos
sobre ele.
Tudo parecia
perfeito, viveria naquele mundo. Pessoas compreensivas, sentimento uno, a moral
já estabelecida. E assim os anos passaram. Arghus casou, criou dois filhos, que
ficaram parecidos com o pai, e ficou velho. Certo dia, após o inverno, Arghus
sentiu uma dor imensa no seu peito. Ligou para o seu chefe, o mesmo de Augusto
e de todos, mas ele não atendeu. Viu que ali seria seu fim. Como um corte do
coração, Arghus morreu. E acordou. Estava na porta de seu amigo Augusto. O
cheiro já conhecido, sabia onde estava. E sabia que não sabia mais também. Olhou
para a rua... decidido a morrer, viu um gato ser atropelado, e pensar que ali
morreu.
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Casa dos Vivos
Borbulha sangue em nosso pensamento
Venta, afastando os campos que procuramos
É isto triste?
Pare de murmúrios em meu ser,
Buscamos a cura para a alma.
Vestimos a roupa, novamente.
Lá vem o alfaiate da morte,
Para cortá-la.
Estamos fora do tempo...
E já estivemos nele?
Como um vagante,
Corre para achar uma cova,
Para descansar.
Ache um lugar úmido,
Velho, com gramas em sua janela.
Assista quando a noite queimar,
Elas murcharem.
Realmente, não é mais novidade.
Lá vai o defunto viver...
Pior é viver como defunto.
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quinta-feira, 25 de setembro de 2014
Uno
Andava calmo pela areia
Suas lágrimas faziam parte do mundo
Mas já não doíam tanto
Ele trazia em seus punhos uma lembrança
Mas largou-a no mar
Entendia que seu destino havia sido cumprido
Dotava de novos olhos
Os quais finalmente digeriam todas cores
Significava-lhe tudo
Apertava os dedos
Sentia a quentura dos grãos tocar a alma
Não esfriaria
Passo a passo confirmava seu destino já nada previsto
Já sentia as águas consumirem seus pés
E por um momento, o branco de sua mente só conseguia pensar
"Eu deixei marcas"
E pela última vez, sua mente se voltou às estrelas
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quarta-feira, 24 de setembro de 2014
Chega de molhar papel
Vai
Bate! Bate!
Tanto amor em seu coração
Mas pulsava-lhe ódio dos olhos
Sua dor era latente
Metal quebrado em pedaços
Barulhos afiados de murmúrios
Dor nos ouvidos de murmúrios de ilusões
Menina, seu tempo passou
EVOLUA
Tudo é tão difícil
Os anjos não aparecem mais
Feche os olhos
Respire
Ande
E se aqueça
Minha querida, nunca te esqueças
A tristeza cultiva-se dentro de um só
E o teu azul
Ah... o teu azul
Esse ainda não se foi.
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Vitalidade
O céu lacrimeja entre as folhas
A escadaria sangra
A menina chora e... desce
A lua veio, como todo dia
O humano ficou sóbrio
E o dia virou noite
A realidade ecoa no vale.
Névoa beira as árvores.
O chalé é mais quente
Cacos no chão
Não me cortarei novamente
Ele foi embora,
Não olhou para trás, não podia.
Está errado? Desesperado ou sábio?
O sino começou a tocar
Congela os sentidos
Chá? Sem importância.
O inverno chegou após um tempo.
Todos festejam o nascimento.
Mas a menina... a menina
Ela olha a mancha na escada.
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terça-feira, 23 de setembro de 2014
Poema das Negativas
Não consigo mais escrever
Não consigo mais pensar
Não consigo mais
Não consigo me perdoar
Não sei por que não fiz nada
Não sei onde estou nesta perdição
Não sei se há lição nisso tudo
E se houver, não quero mais aprender
Não consigo mais
Fui decapitado mais de três vezes
E o carrasco tem meu nome
Mas isso não importa mais
Eu esqueci meu amor lá fora
E agora está frio aqui dentro
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Nós
Eu
E tudo que fiz
E tudo que sou
E tudo que escrevi
Eu
E tudo que penso
E tudo que vivo
E a Vida e Tudo Mais
A mim
E tudo que foi feito
E também tudo que foi
E tudo que foi lido
Eu
E todo o paralelismo da Ana
E todo o Criticismo
E todos os primos do Ismo
Eu
E tudo que toco
E tudo que vejo
E tudo que atravessa o prisma
Eu
E tudo que me enlaça
E tudo que a mim laça e lança
A Luz, que atravessa o prisma
E o prisma reflete a luz que lança
E eu reflito, à luz do prisma
E nós nos vemos, à luz do prisma,
No outro lado do mundo
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Do outro lado
Por sobre as nuvens, sobre as trevas,
O azul celeste sempre aprofunda.
Por favor, tirai de mim estas grevas,
Que, neste lodo, minha alma só afunda...
Como hei de chegar ao que não há?
Tão próximo e distante é o Sol poente,
Júpiter mostra-me, mesmo de lá!
Estaria a resposta em minha mente?
Tanto conhecimento ao Homem falta...
A Harmonia, porém, ó, tão alta,
Não se escala com os pés ligeiros.
Pedra por pedra, uma há de soltar.
Aproveitai os ocasos praieiros!
Luz que é luz, pois, há de acabar.
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V. Pictor
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Água Adentro
Uma viagem
Sem olhos, minha alma se guia, esguia, por sob as águas.
Sente os frios, os calores, arrepia-se ao toque.
A fluidez inconstante a leva acima, abaixo, a todo lugar e a lugar algum.
Uma fusão de cores inunda sua ausente visão,
Seus ouvidos, ilusões, escutam o dançar eterno e profundo da Terra.
Vaga por onde não há rimas, por onde o certo é incerto, por onde não se vaga, se viaja.
O sal cintila em suas feridas. "Há dor melhor?".
A alma não sabe, não pensa.
Sente somente o que sente e não explica por quê.
Assim é estar mergulhado no oceano dos segredos,
Ser levado pela brisa e pela correnteza.
Rumo indeciso, só se percebe uma realidade:
O destino é longínquo.
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Ascensão
Descansa onde tu mereces.
Onde o real se desfaz,
Teu ideal se refaz.
Lá, ouvirão tuas preces.
Pensa: lá tudo é marfim,
Sim, abre a tua asa!
Sabe: esta é tua casa,
E nem tudo tem um fim.
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V. Pictor
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sexta-feira, 19 de setembro de 2014
Sempiterno
Então é isto?
Fuga, apenas...
Não consegue sair da jaula?
Não adianta correr,
Ficaria no mesmo lugar.
Ando sem olhar a direção.
E para onde olho?
Somos nosso próprio Ceifador.
Senhorita, não fique triste,
Você pode andar.
O céu realmente é azul...
Nós conseguimos reconhecer as coisas.
Nem tudo passa.
Nem tudo se forma.
Meu nada é sempiterno,
Meu nada, eu, você.
Sou firme como a água,
Parado como o rio.
Pode até tirar a flor de seu Lírio,
Mas nunca arranque as folhas,
Esta é toda a sua beleza.
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segunda-feira, 15 de setembro de 2014
Ora, ora, ora... e acabou
Não há tempo para a falta de tempo
Há os dados, há a realidade, e a sorte está lançada
Há tempos, não há mais tempo
Só que por falta, não por inexistência
O tempo é Nietzsche
O tempo é Schopenhauer
O tempo é Kierkegaard,
Foucault, Kant, Smith, todos!
O tempo é todos, eu e você
O tempo é tudo, eu e você
O tempo não existe
O tempo, eu e você, somos nada
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domingo, 14 de setembro de 2014
Memórias de algum presente
Eu andei tanto tempo
Olhava para frente
Seria o capitão do mundo.
Estúpido!
Amparo ao prematuro
Nascido do lodo
Criado no gozo
Morto como todos
Sinto sua existência...
Desculpe-me
Vá para o oeste,
Liberte os livres.
Olhe a chuva... ela não existe.
Os vermes começaram a rastejar
Ela está os queimando.
O Inferno já mandou meu convite.
Pegarei o metrô.
Estou em casa
Acredite, estou escrevendo para você
Carta de amor? De suicídio?
Ambos não sabem o que dizer
O Amor suicidou. Sem complemento
Corra, pegue a faca
Todos começam a chorar.
Dói? Preencha seu coração de... álcool; tome alguns remédios; diga
[para si: eu vivo! Pronto. Está feliz?
"Eu vi um homem, no barranco"
Ajudo? Ele já morreu
Ei, já leu até aqui
Conseguiu entender?
Crie um motivo, qualquer coisa
Falta um pouco mais, voltemos à poesia
É apenas mais um... disse a velha.
Só pensa em si... disse o doutor.
Deu um abraço, sem motivo... a amiga.
Estamos sozinhos, acredite
E agora, o que será?
Role os dados.
A faca sempre esteve aqui... Utilize.
Pobre falecido, ela está em mim
Sente aqui comigo, na grama.
Está vendo meu oceano?
Está sentindo a brisa?
Sente a maré?
São seus.
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terça-feira, 9 de setembro de 2014
Menina Cecília
Menina, não chores
Tu que sempre arguis tão bem
Acalma-te, querida
Há ainda amor em teus olhos
Tu, Cecília, que fostes brincalhona
Tu que tinhas o fervor na alma
Para onde fostes quando não para perto de mim?
Temos tanto para ti, Cecília
Mas cremos que de nós, mundo
Falta nos amor
E sem amor, sei bem que tu não vives
Cremos em ti, menina
Tua voz erguerá o Mundo
E teus poderes levarão o doce ao céu
Confio em ti, Cecília
Teu sorriso ainda está aí dentro
E a sua vitória também.
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