quinta-feira, 14 de maio de 2015

Tempo


  Tudo desapegou. A morte me abandona aos poucos. Porque eu não consigo?! Diga-me! Não acharei resposta aqui. 
   Ela está sentada do outro lado. Não sei qual era a cor da roupa. Seus olhos estavam me consumindo. Eu estava jogando fogo nos meus sonhos. Não importa o quanto eu queime, o final é sempre falho. Segure-me! O ar está me torturando. Mas os olhos ainda continuam a me consumir. Não sei onde estou. Digo a ela? Digo? Nem eu sei o que dizer. Pegue minha alma. Venda. Ela quem sofre. 
   Passei algum tempo... não, apenas passei, acho que o tempo não estava ali, olhando-a. Depois voltei a morrer com o tempo.

Futuro do Pretérito Perfeito


Sinto-me traído pela  natureza,
Pela beleza da essência.
Por universal sapiência,
Vejo-me caído, flácido e em fraqueza.

Et tu, Amare! És bruto!
Vejo tua secreta forma,
Ouço tua soturna corda,
De choro e música és fruto!

Fui, desavisado e alegre,
E sou feliz por fazê-lo;
Houve dias de frio e de febre:
Bruto, fui feliz em tê-lo.

Porém, reconciliar-me-ei:
Lúcido, digo que A amei!
segunda-feira, 4 de maio de 2015

Faíscas no Horizonte: Encontro 


Não sei se encontrarei o horizonte 
O caminho está morto 
O sol caiu em desgraça 
E quando acontecer, tudo será uno 
Tudo será triste, lúgubre, doce. 
E todas as pontes desabaram 
As ondas alcançaram nosso suspiro 
O trono caiu em pedaços 
A cabeça do rei em uma faca sem ponta 
Noite já não é uma novidade para nós 
E quando acontecer, tudo será uno 
O barco, ainda sobre as ondas, treme 
Pessoas assustadas, 
Sentem o cheiro do sangue em suas mãos 
Hipócritas que são o mundo 
Vivem para alimentar os vermes 
Meus medos se levantaram 
Todos os túmulos desossados 
Nada como o ontem que nunca veio 
Nada como o amanhã sem existência 
Nada como o mundo com gotas de esperança 
Glória para a porra dos crentes 
Está escorregando em nossas mãos 
Está escorregando em nossas mãos 
Está vendo o garoto morrer? 
Está vendo seu coração sangrar? 
Sangre! Curve-se! Salvo pela graça 
Patético, estúpido, salvo pela graça 
Cortou os pulsos, menina? 
Sente melhora? Acalmou a alma? 
Somos carne, somos alvo, somos a salvação 
O inferno já não é novidade para nós 
No final, não olhe nos meus olhos 
Não olhe nos meus olhos 
Olhe o horizonte, o horizonte 
Sou eu, sem ser alcançado 
Olhe o horizonte, o horizonte 
Já estamos prontos, não? 
Sente a mudança de cor em meus olhos 
Vê o podre rastejar sobre as ruas? 
Enxerga o sangue escorrer pelos olhos? 
Queimar a pela, elevar-se 
Então secaram os poços 
Queimamos cidades, almas, anjos, demônios 
E eles se sentiram em casa 
Estou sem meus ossos 
Mole, leve, verme sem alma 
Alma que talvez flutua, alma que talvez seja 
Ama que jamais para, para, para 
Já comecei a apagar minha linhas 
Não siga minha estrada, não toque 
Meus olhos apodrecem, não ganham cor 
Deixo dor para trás, vou para o nada 
Não quero você lá, quero sua linha contínua 
Alcance o horizonte, nos encontraremos 
"Não há nada no ar hoje a noite" 
E quando acontecer, tudo será uno
sexta-feira, 24 de abril de 2015

Luto



    Na sala, todos reunidos. Silêncio é rei. Ainda há a densidade do gosto do falecimento no ar que respiramos.
    - Coitado de Lúcio, foi-se tão jovem!
    Sim, meu incomparável amigo Lúcio partiu ainda muito jovem, foi trágico. O dia entoava cantigas de cor e de alegria, Lúcio caminhava plácido, embalado pelos sons dos sorrisos e ternuras. Infelicidade da natureza, surgiu-lhe a carência de atravessar a rua - eu o chamei - e, Deus o tenha, um caminhão de mudanças atingiu-no. Não morreu na hora, ainda lutou por algumas semanas, porém padeceu inevitavelmente. 
    Lúcio era bom homem, embora jovem era bom homem. E era tão forte de corpo quanto de espírito, novo e saudável. Inevitabilidade inefabilíssima, o destino o levou! Ó, sofri! Afinal, fui eu aquele que invocou-no ao outro lado da avenida, transição essa que provocou sua triste morte. Pudera ao menos Lúcio ir por causas naturais, tuberculose que fosse, não recairia-me a culpa! Ó, metanoia, heresia pungente!
    - Acalma-te, Lázaro, que a vida ajeitar-se-á. Lúcio se foi em sua hora, mas a sua hora ainda não chegou, homem!
    Sim, bem o sei, e não quero debulhar-me em sofrimento, mesmo sendo o luto inevitável (tanto quanto a morte em si). Há de melhorar, a vida minha, e aquela após a morte, para Lúcio, também. A vida é bela, seja antes ou depois do mistério.
    Agradeci as condolências, cumprimentei a todos. Abracei Lúcio, beijei sua testa e, ao sair, vi-o sorrindo para mim. Deixei a sala com lágrimas, sorrisos e saudades. Vida longa a nós, e eterna a Lúcio.
sábado, 18 de abril de 2015

Volúpia do Aborrecimento


Temo a vida, temo a vinda incerta
Vinda que grita, diz-me sobre Berta,
Que sorri, alma-sóror e alma amável.
Sinto que a amálgama não é mais palpável.

Tomo um gole d'água
Regado à minh'alma.
Um brinde ao Realismo...

E um choro frio e demente
Dá a lágrima ao Romantismo.

Insípidas, cores tendem ao pálido
O que era vívido é lívido e plúmbeo,
E lúrido e insosso e enfuna-se ao esquálido.
Sentir a amálgama é agora tão árduo!

Tomo um gole, álgido,
Regado de amálgama,
Num brinde ao Realismo...

E um choro frio e demente
Dá a lágima ao Romantismo!

domingo, 12 de abril de 2015

Choro de Outono


Mastigo lembranças de outrora
O tempo escorre, como lágrimas de frio,
E o gosto do néctar puro do Rio,
Amargo e escuro em minha boca aflora.

Tal sabor amarronzado,
Fica em minh'alma impregnado
E enquanto rumino o passado,
Inalo o cheiro do futuro, ao lado.

O gosto desce pela garganta,
Paralelo à lagrima pelo rosto...
Ó, Mar, resgata-me do desgosto!

Ó, Céu, livra-mo, do que me espanta!
Sabor sóbrio de breu insalubre!
O coro abrasado hoje é choro frio e fúnebre.
sexta-feira, 10 de abril de 2015

O Delírio


"Chama-me de Natureza, ou de Amor.
Sou tua mãe, e sou também tua inimiga."
Não me estranha tua rima com a Dor...
Tu castigas, sim, mas também abriga.

Tu reduziste eras ao voluptuoso
Destruíste seres e coisas num nada.
"Sim, fi-lo eu, e tal mo foi doloroso.
O dom de dar é o dom de retirar".

Perdão, ó Amor, por minha ingenuidade,
Decidi amar ainda sem a idade!
"Tolo tu, porém inequívoco és.

Sim, sentira-me verdadeiramente."
Assim, sê-lo-ei, Amor, eternamente.
Porém, peço, ausente-me do revés!
quinta-feira, 9 de abril de 2015

Diamante Vítreo


A vida é bela, vivo é quem o diz,
Que a vida de vida repleta se vê;
O mar imenso e belo é profundo,
Mas engolir o sal também é viver

Eu vivo vítreo
Enfrento o arbítrio
A escolha monstro
Escolhi o confronto

Pensamentos meus se esvaem no horizonte
Calados, isolam-me em uma ilha.
Nela vivo só, vivo em família
Fragmentos de luz pingam em minha fronte
E eu bebo a água do desespero
Na temível fonte da desilusão

Bebo-a em copo vítreo:
Cristalino, vejo suas profundezas;
Puro, noto inegáveis belezas;
Porém o copo ainda é vítreo-inato,
E fragmenta-se ao meu tato.
segunda-feira, 6 de abril de 2015

A Cor do Epitáfio


Ouço sons amarronzados.
O lápis pende solto em minha mão,
O ar é denso, movo-me em vão,
E ouço sons indecifrados

Titãs cantam minha verdade.
Cego, dançava a seus tons livres,
Belos e precisos sons e timbres,
Dos quais eu privei a liberdade

Descobri que o que era e o que sou diferem,
E que tais coisas ditas, assim, por mim, me ferem.
Porém, outrem dizer de nada adianta
Se o que vale hoje é o que o Titã canta

Luzes brilhavam
Sinos soavam
Cheiros e gostos
Dançavam em nossos rostos

Vejo em tons amarronzados
Por mais luz que haja na escuridão,
Dracônica é a lei da minha visão:
"Mudastes, não verás dias corados."

Cristalino é o diamante que via,
Aos loucos sons de outrora dançava,
E em belos tons de aurora me alçava,
Perplexo e em transe, eu pedia: "Brilha!"

Atendido e ofuscado pelo brilho estridente, 
Perdi os olhos, peito, força e mente,
A noção, o controle, o remo, a rima...
Mas o Rio que rege a vida vem por cima.

Noites interminavam
Dias se perpetuavam
Sons e cores, tão complicados,
Tons e flores, hoje... amarronzados
sexta-feira, 3 de abril de 2015

blue


As estrelas brilhavam vivas, 
Dormiam perto do oceano,
Rodeavam a lua, aconchegavam, 
Engoliam a tristeza. 

Então uma onda bateu meus pés
Eu senti você...
A onda voltou para o oceano, deitou
E eu estava vazio, desesperado inerte

Andava sem deixar sinal na areia
Andava com a lua,
Suas lágrimas espalhadas no mar
Acolhidas ao pouco pelas estrelas.

Mais uma onda se ergueu no oceano
Não tocou meus pés,
Então sentei, deixei a brisa me tocar
Ficaria esperando a onda

Não chegarei no horizonte
Não sei se ele existe
Mas a lua no céu é real
Nada é fácil, oceanos secam em tristeza 

Então entremos, quero sua mão
Não esquecerei de convidá-la para o mergulho
Sem questões para o céu
Volte para casa, senhorita 
Chega de desvios, mentiras,
Apenas eu, você, o oceano
Estamos fora do mundo