segunda-feira, 6 de abril de 2015

A Cor do Epitáfio


Ouço sons amarronzados.
O lápis pende solto em minha mão,
O ar é denso, movo-me em vão,
E ouço sons indecifrados

Titãs cantam minha verdade.
Cego, dançava a seus tons livres,
Belos e precisos sons e timbres,
Dos quais eu privei a liberdade

Descobri que o que era e o que sou diferem,
E que tais coisas ditas, assim, por mim, me ferem.
Porém, outrem dizer de nada adianta
Se o que vale hoje é o que o Titã canta

Luzes brilhavam
Sinos soavam
Cheiros e gostos
Dançavam em nossos rostos

Vejo em tons amarronzados
Por mais luz que haja na escuridão,
Dracônica é a lei da minha visão:
"Mudastes, não verás dias corados."

Cristalino é o diamante que via,
Aos loucos sons de outrora dançava,
E em belos tons de aurora me alçava,
Perplexo e em transe, eu pedia: "Brilha!"

Atendido e ofuscado pelo brilho estridente, 
Perdi os olhos, peito, força e mente,
A noção, o controle, o remo, a rima...
Mas o Rio que rege a vida vem por cima.

Noites interminavam
Dias se perpetuavam
Sons e cores, tão complicados,
Tons e flores, hoje... amarronzados

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